domingo, 23 de novembro de 2025

Tempo Rei

 Esse texto é sobre algo que eu não tinha pensado em colocar no papel: a sensação e a emoção do show do Gil em Fortaleza. Hoje, ainda pensando na apresentação, senti vontade de registrar o que vivi ali.


A importância de Gil para tantas pessoas sempre me chamou atenção, especialmente pelo fato de ele representar inspiração, mudança e até disciplina na vida de muita gente. É muito bom ter alguém para admirar, respeitar e usar como referência — não pelo medo, mas por um tipo de respeito que se sente de longe. Nos dias que antecederam o show, li muitos comentários elogiando a apresentação: a forma como é conduzida, a sequência, a vitalidade dele. E realmente, a vitalidade de Gil é algo admirável. Ele parece curtir o momento como se fosse a primeira vez… ou a última.



Não sou um profundo conhecedor da obra dele. Lembro de ter parado para ouvir Kaya N’Gan Daya e a trilha de Eu, Tu, Eles. No geral, conheço o que sempre tocou nas rádios. E ali, quando surgiram músicas que eu não conhecia, não houve cansaço algum, pelo contrário. Foi bom ouvir aquela novidade que poderia ter vindo da praia, da serra ou da cidade. A cabeça de Gil passeia por tudo. A variedade das letras e melodias desperta só coisas boas. Em certo momento, ele comentou sobre as várias gerações presentes na plateia, famílias que dificilmente se encontram juntas em um mesmo show. 

O público estava em sintonia, sem empurra-empurra, com uma educação exemplar - quase um reflexo das letras de Gil. Ele pensa muito, pensa longe, e comunica de forma clara e única. Fiquei (e ainda estou) admirado com tudo. Esse foi o terceiro show dele que vejo: o primeiro em um festival e o segundo no Trinca de Ases. No Trinca, o respeito era algo que dava para sentir de longe.



Revisitando tudo isso, percebo que essa boa sensação de estar diante do trabalho de alguém que te faz bem é algo raro e especial. Há momentos em que se está ali apenas absorvendo, como quem assiste não só a um show, mas a alguém que conseguiu atravessar gerações carregando significado, inteligência e sensibilidade. E é esse tipo de experiência que dá vontade de registrar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Avião no ar

Hoje à tarde vi um avião no ar. 
Onde moro não é comum passarem aviões. Observei-o passando, cortando o céu azul e deixando uma linha branca de fumaça pelo caminho. Ali estão algumas dezenas de pessoas, dezenas de destinos, alguns cheios de alegria por estarem indo ao encontro de alguém ou a algum lugar, outros tantos com as bagagens carregadas de boas lembranças voltando para casa. Elas estão sendo carregadas a 800 km por hora. Quem está lá em cima nem percebe isso, muito menos se alguém a 10 mil metros abaixo está parado olhando para cima tentando visualizar os tantos rostos naquela pequena multidão. 

Para mim, dois momentos são cruciais no trajeto: pouso e decolagem.
Quando o avião enfim chega ao voo de cruzeiro, e a sensação de algo destampando o ouvido chega junto com vários sons de cintos de segurança se soltando, é um momento de tranquilidade dentro da viagem. No pouso ou na decolagem não tem isso. O que se tem é aquele pensamento de pedir para a aeronave ir mais rápido o possível ou que os freios funcionem de forma correta. Acredito que esse sentimento é de quase 100% dos passageiros, mas claro que tem aqueles que não se incomodam com nada, como aquelas pessoas que fazem tatuagem e conseguem dormir durante a sessão. Eu invejo quem consegue dormir durante toda a viagem. Eu não consigo, tem sempre algo me incomodando. Os campeões nesse assunto são: turbulência e poltrona. 
Após alguns voos, a turbulência me incomoda um pouco menos. Costumo olhar para a tripulação quando o avião começa a passar por "cima dos buracos", fui percebendo que eles seguiam o trabalho de distribuir o lanche, por exemplo, da mesma forma que estavam antes da turbulência, então aquilo definitivamente é normal. Já a poltrona... bem, a poltrona não tem jeito. 

Um livro costuma ser o meu companheiro de viagem - até porque minha principal parceira costuma sempre estar dormindo. A história no livro me leva para outra viagem, para outro lugar antes mesmo do pouso.
Quando estou lá em cima, olho para o solo. Consigo ver serras, mar e casas. Pessoas, definitivamente, não as vejo.

Turista

"Moro onde você passa férias" — ok, tudo bem, mas aí surge a pergunta: você usufrui disso? Aproveita o local que vive ou já transformou o dia a dia de obrigações em repetições? 
Percebe a bela vista da praia no trajeto até a lotérica quando vai pagar as contas que vencem no dia 5? Aproveita a volta para casa durante o pôr do sol para caminhar à beira-mar ou vai direto para o sofá de casa? Registra com fotos/vídeos um belo dia de sol com vento forte ou só se surpreende com a cidade quando alguém de fora a valoriza com belas filmagens? 

O local das férias está disponível a qualquer dia, a qualquer hora. Você mora nele. Mora onde muitos sonham em estar, mas por que ele não é bom o bastante para você? A convivência, o dia a dia, o tal leão que temos que matar todos os dias para seguir adiante transformam o lugar, acinzentam os muros e flores, mesmo que eles estejam em cores vivas e diversas. 
Os horários das obrigações são uma realidade para moradores do paraíso. Acredite. 

Se baseando no que disse até aqui, de onde raios surgiu a expressão "Moro onde você passa férias"? Já que o morador do paraíso não aproveita o local? 
A resposta é simples: o turista! 
A pessoa que vem de fora mostra aos nativos a face da cidade que está esquecida/abandonada/borrada por muitos dali. Nem tudo é cronometrado, as cores estão lá e combinam perfeitamente com o céu, sol e mar. As residências se mostram belas, muitas delas com padrões históricos (e não velhos/abandonados). As ruas curtas e sem trânsito são um encanto para quem já viveu em quilômetros de engarrafamentos... todos os dias. 
No local das férias, tudo está próximo e de fácil acesso — apesar de a palavra "tudo" nessa situação ser ilustrativa, até porque faltam muitas coisas, porém, no pesar da balança, percebe-se que são coisas dispensáveis. 

O local onde você passa férias está sempre com os braços abertos à sua espera. Volte sempre.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Dupla dinâmica

Entre uma tarefa e outra, me jogo dentro da música que preenche o ambiente e passo a vivê-la, e não apenas ouvi-la. “Se o gênio me perguntasse quais seriam meus três desejos, o primeiro seria voltar no tempo para te ver aos 16 anos.” Percebi que sim, seria um bom pedido, desde que eu enxergasse com meus olhos, mente e corpo da mesma época.
A música seguiu, e eu fiquei a pensar naquilo. Então me toquei que talvez eu tivesse sido “egoísta” em me incluir no desejo de ser mais jovem… mas deixa eu parar de falar sobre isso, pois o texto não é sobre uma dupla que se conheceu na adolescência. Na verdade, é sobre como é bom o fato de ter alguém ao lado.
Percebi que, em diversos projetos meus, alguém (em alguns casos, mais de uma pessoa) esteve ao meu lado, ajudando, cooperando, alertando, me ensinando, me mostrando que posso, e que aquilo faz sentido. Tenho um punhado de exemplos, todos com carga de importância enorme dentro de minha linha do tempo. Várias conversas que tiveram um “pois bora fazer” se transformaram em algo que ocupa ou ocupou meu dia a dia. Me fazem (e fizeram) muito bem, até porque tudo o que foi criado era sobre algo que gosto de acompanhar. São mundos que compõem meu universo particular e que, de alguma forma, foram compartilhados com alguém que também vive naquele lugar.
Gosto de tudo o que foi produzido e, às vezes, visito ou revejo os projetos - e aqui a bolha vai de textos literários a página de humor, da música a página de divulgação. Alguns pararam com o tempo, outros seguem na ativa. Rever os que estão em pausa me faz bem, todos eles me transportam para eras diferentes. 

Faria tudo novamente, escolheria as mesmas pessoas para formar a dupla, e, com certeza, usaria o pedido do gênio para me encontrar com minha parceira preferida/ideal aos 16 anos de novo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Black Circle

 Gosto de música, se duvidar é meu passatempo cultural preferido. Há quem goste de gastar o tempo assistindo filmes ou lendo livros, por exemplo. Eu me pego sempre ouvindo música. Pra mim uma sequência musical costuma erguer paredes onde são exibidas histórias fascinantes, perfeitas para serem contadas (ou simplesmente visualizadas na mente).


Música também é máquina do tempo, sem dúvida. Talvez seja a maior graça, de tantas que ela proporciona.
Há dois dias vivi um pouco disso, percorri diversas épocas de minha vida, situações, revivi locais e pessoas (e por uma felicidade enorme, algumas delas estavam comigo presencialmente)

Sábado fui a uma apresentação de uma banda cover do Pearl Jam que está percorrendo o país com uma apresentação que conta com uma orquestra sinfônica. Instrumentos clássicos e elétricos na mesma sintonia, na mesma sinfonia. Ao meu lado Paulo Cabeça, que lá pelo fim de 91 ou início de 92 me emprestou o primeiro disco do Pearl Jam. Em tempos em que não existiam ‘streaming’ de música, foi meu parceiro em encontros musicais. Sentávamos e ficávamos ouvindo o que um ou outro tinha a mostrar. O Pearl Jam também nos fez se encontrar em outras capitais, durante os seus shows.

Também estava comigo a Adelana, óbvio, que surgiu em minha vida na mesma época do Paulo, e foi das mãos dela que recebi o disco do Pearl Jam que foi decisivo para que eu virasse fã. Isso lá pelas bandas de 96. Discos diferentes, pessoas diferentes, porém definitivos.

No palco a banda que provavelmente foi a que mais acompanhei as ‘lives’ durante a pandemia. De alguma forma foi uma ajuda durante uma época de incertezas.

E claro, sem esquecer do Camelo, que nos encontramos por causa do Pearl Jam (assim como tantos outros espalhados pelo país), e que desde então me acompanha em viagens curtas e longas.


A música é isso e muito mais.
Sim.

P.s; nunca devolvi o cd que peguei emprestado com o Paulo 0_0

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Público para todos

Hoje tem show do Hungria aqui no Pecém. Não conheço o trabalho do rapaz, escutei alguns trechos de uma três musicas dele. Não gostei. 
Há uns meses, quando foi anunciado o show nas redes sociais locais, vi muitos comentários de pessoas comemorando a vinda dele. Isso eu gosto.
Acho bacana quando as pessoas se identificam com algo e vibram quando conseguem usufruir daquilo. Não é porque eu não curta o trabalho dele que vou esnobar/xingar/censurar os que acham bacana o que ele produz. Infelizmente muita gente faz isso.
Eu curto o som da banda escocesa Travis, por sinal eles fizeram um show em São Paulo nesse mês. Se eu já estivesse em Sampa, provavelmente iria, mas não chega ao ponto de me fazer viajar pra ir vê-los no palco (apenas uma banda me faz voar). Apesar disso, não posso negar que Travis tem sim sua importância em minha trajetória. E não só na música, lembro que o site dele era um dos poucos que disponibilizava chats de bate-papo para os fãs, e lá arranhei muito a língua inglesa. De lá não saíram amigos virtuais/reais, como foram os casos dos sites do Pearl Jam e Nando Reis, mas isso é o de menos. Alias, Travis/Pearl Jam/Nando Reis tinham sites muito legais em termos de conexões entre os fãs ou entre o artista (NR que o diga). 

Voltando ao Hungria e o respeito, eu costumo dizer que acho interessante o trabalho de alguns artistas, mesmo eu não curtindo o som deles (sim, você pode fazer isso!), e aqui cito: Luan Santana, Anita e Pablo Vitar. Repare, eu falei acima que não curto o som deles, porém admiro sim a trajetoria. Luan Santana, por exemplo, eu sempre o visualizei um estranho no mundo dos sertanejos, até porque é dificil ver um artista sertanejo em carreira solo. Quantas Anitas e Pablos tentam a todos os dias chegar ao sucesso? Os que citei acima estão surfando em boas ondas há vários anos. E acredite, seja você gostando/consumindo/divulgando ou não. Tem espaço e público para todo mundo.

Em resumo, tem gosto pra tudo. 
Nos últimos anos tem as pessoas que além de não gostar, também tentam denegrir (!). Vai entender. E a tentativa não se resume a artistas poucos conhecidos como Hungria ou Travis, mas se estende a artsitas históricos como Titãs, por exemplo. Eu acompanhei o inicio da turnê deles ano passado. Conferi inclusive o dia do lançamento das datas. Eram N datas. A turnê começou e as datas foram aumentando, e isso significa claramente que os shows estavam bombando. pois bem... algumas pessoas falavam que os shows estavam vazios (risos). As pessoas não estavam preocupadas se os shows estavam cheios ou não, elas estavam na tentativa de denegrir a imagem do artista. Vi alguns videos onde a banda estava no palco e algumas dezenas de pessoas na plateia. Nos comentários as pessoas vibravam por não tá cheio, mal sabiam elas que ali estavam apenas que pagaram para ver a passagem de som. Valor por cabeça: Um mil reais. Porém a mentira era saborosa e as pessoas adoravam "saber" que tinham poucas pessoas no show dos Titãs. Nos comentários vez por outra alguém tentava explicar o que estava acontecendo e era xingado. Após a passagem de som, os portões se abriam para o restante do publico entrar.
Infelizmente as pessoas estão preocupadas apenas em ver o outro na merda. Vi gente falando mal até do show de Caetano & Betânia (só em São Paulo e Rio são 7 apresentações). Eu confesso que não entendo esse sentimento.

"Cantando eu mando um alô
Para você que acreditou
Que podia ser mais feliz
Vendo o outro ser feliz"

sábado, 11 de novembro de 2023

Davi e Tilak

Chegaram a terceira cidade com o nascer do Sol. A claridade revelou algo impressionante: uma gigantesca fita branca segurava todo o céu ao seu redor. Davi ficou mais confuso ao reparar que as árvores também não tocavam o solo, suas raízes ficavam a poucos palmos do chão. Ficou espantado com tudo aquilo em volta, e o medo em se mover a frente abafou sua fala e o paralisou. 

Tilak já estava bem a frente, não tinha parado de caminhar, já conhecia a Cidade do Ar e aquilo não era mais novidade para ele. Não demorou muito e ele percebeu que Davi estava bem atrás, parado feita uma estátua, de boca aberta a olhar o enorme laço branco segurando a cidade suspensa.
- Davi, vamos, não podemos parar – disse Tilak
- Estou com medo desse chão subir para o céu – respondeu o assustado Davi.
O solo daquela cidade não parecia tão seguro assim. - Vamos, não seja bobo, aqui na Cidade do Ar tudo fica suspenso, menos o chão – Tilak tentava tranquilizar o novo amigo.

“Cidade do Ar”, esse nome fez surgir um sorriso de leve na face de Davi. Enfim estava na terceira e ultima cidade de sua longa caminhada para juntar as três partes do cristal em forma de chave. A chave que abrirá o cadeado da enorme tranca que lhe prende naquele lugar estranho. Tinha tido a sorte de ter encontrado Tilak assim que entrou nesse novo Mundo.

Há 2 dias estava no bosque, perto de sua casa a brincar com seus amiguinhos, saiu a disparada entre as árvores, perdeu o equilibro depois que topou em uma pedra e caiu desacordado. Foi acordado justamente por Tilak. A cor azul de seu corpo e os olhos muitos grandes em um rosto pequeno e fino fez Davi se assustar e tentar bater na estranha criatura a sua frente. Com a metade do tamanho do já pequeno Davi e com apenas 3 dedos longos em cada mão e pé, Tilak assustava a qualquer um naquela ocasião. Então ele abriu a boca e disse: “calma, sou amigo, não quero lhe fazer mal”. Depois de um tempo andando assustado em ziguezague por entre as árvores e ouvindo sempre a voz daquela estranha criatura azul a lhe perseguir, Davi resolveu ceder e parou diante de Tilak e perguntou: "quem é você?"



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Texto escrito originalmente em 2007

sábado, 4 de novembro de 2023

Um dia histórico com o Ferroviário

O texto abaixo foi enviado via e-mail para uma outra pessoa 4 dias após a classificação do Ferroviário para a Série C de 2024, e como citado no final do próprio texto, a mensagem do meio pro fim acabou se transformando como um registro histórico do que tinha vivido e talvez por causa disso resolvi copiá-lo pra cá.

(3 de Setembro de 2023)

"Como te antecipei via instagram, o Ferroviário voltou pra Serie C.
Eu ia te enviar o relato do jogo na segunda-feira, mas aí percebi que você estava voltando pro Brasil, e imaginei que a sua cabeça (e corpo) talvez estivesse virada, tentando achar o tempo certo do tal relógio biológico.
Sabia que isso estava rolando pois eu também estava confuso no tempo e ainda vivendo aquele fim de tarde de Domingo.

Essa partida com certeza foi uma das mais incríveis que já presenciei.
Os 90 minutos foram com cara de decisão. Aquele jogo nervoso e que mostra que o time de melhor campanha nem sempre vai passear pelo time que se classificou com o menor número de pontos.

No estádio estávamos Eu, Pablo, meu sobrinho Renan que sempre vai comigo aos jogos e mais dois primos, torcedores do Ceará, e que foram ver esse tal time do FAC em ação.

O jogo foi tenso desde o início. Alguns lances perigosos dos dois lados. O goleiro deles salvando tudo, repetindo o que fez no primeiro jogo, no Maranhão.

Percebi que eles estavam sempre em busca de acalmar o jogo.
Ferroviário fazia uma boa jogada e de imediato: jogador deles ao chão.
Vale deixar registrado que eles vinham de 2 decisões seguidas de pênaltis.

Nosso zagueiro falhou em um recuo de bola aos 45 do segundo tempo. Entregou a bola pro adversário.
Nosso goleiro teve que derrubar o atacante.
Pênalti.

Sensação de vazio. O tempo da marcação do pênalti até a cobrança levou 1 minuto e meio.
O gol foi aos 46:30.
Fiquei sentado, ombros baixos, olhando pra toda aquela gente no estádio. Por sinal fazia muito tempo que não via tanta gente em jogo do Ferroviário.
A campanha passou pelos meus olhos. Nenhuma derrota. Time muito consciente do que tem que ser feito.
Tudo nos trilhos.

Enquanto pensava nisso, lembrei que em alguns momentos de minha vida pensei em porquê gostar tanto do Ferroviário/Futebol. Sabia que aquilo ia me incomodar por vários e vários dias.
Mas sempre que penso assim, a resposta sempre é a mesma: viver sem ter o que amar é viver sem propósito.

O centro foi batido. A bola circulou. Veio no ataque, voltou. Ficou pressa um pouco na lateral.
Eu tava nervoso demais e sabia que os jogadores também estavam.
Uma sede absurda. Um pingo de saliva em minha boca.
Me levantei, me afastei um pouco dos meninos e me escorei na grade que divide a parte da arquibancada atrás do gol com a arquibancada da lateral.
Muitas crianças no estádio, algumas de colo. O Ferroviário tem uma ação de levar pessoas da comunidade em torno da sede do clube para ver os jogos, fora do PV eu contei uns 10 ônibus.

Surgiu uma falta próximo da área.
A torcida começou a gritar "Eu acredito".
Bola foi em direção ao gol.
Goleiro botou pra escanteio.
Eram 50 minutos do segundo tempo.
O juíz tinha dado 8 de acréscimos.

No escanteio veio o gol do FAC. Bola baixa no primeiro pau, resvalada pra trás, na disputa do atacante com o zagueiro, o zagueiro deles botou a bola pra dentro.
O estádio veio abaixo. Olhei para o juiz que apontava para o centro do campo.
Deixei o corpo ser escorrado pela grade e percebi que tinha que me controlar. Fiquei vibrando, mas contido. Olhei para onde estava Pablo e Renan, os dois se abraçando e cumprimentando alguns desconhecidos.
A comemoração não parava, o tempo passando e parecia que o gol tinha acabado de acontecer. Um mar de gente soltando algo que estava sufocando a todos.
Fui até Pablo, o abracei junto com Renan.

Bola voltou a rolar e a torcida on fire.
A sede foi multiplicada.

Fim de jogo.

Primeiro pênalti deles.
Jogador deu a paradinha e gol. Eu sabia que era contra as regras, mas não sabia que o pênalti seria anulado.
Fizemos o nosso.
Segundo pênalti deles, o nosso goleiro pegou.
Fizemos o nosso segundo.
Terceiro pênalti deles, nosso goleiro pegou.

Parecia irreal.
Depois eu percebi que todos os pênaltis, tirando o da paradinha, foram do lado direito dos goleiros, o nosso pulou sempre para o lado certo.

Resolvi filmar o nosso terceiro pênalti, teria que guardar de todas as formas aquele momento.
Gol.

A partir dali foi só alegria, saímos do estádio e lá fora nos encontramos com a charanga e o carnaval fora de época foi formado. Fomos atrás da banda acompanhando o trajeto até chegar ao carro.
Lá enviei mensagem para Adelana, grupo da família por parte de Pai (onde muitos são Ferroviário devido o meu Avô, que jogou no time na década de 40) e pra você.

Agora vamos enfrentar o Caxias na semifinal (que por sinal o jogo é hoje, dia 7 de setembro), mas a partir de agora tudo o que vier é lucro.

A mensagem ficou muito longa... rs... Mas do meio pro fim percebi que o registro deveria ser feito e é como se estivesse escrevendo pra mim mesmo.

Abraço meu querido, tudo de bom.
E bom retorno ao nosso fuso horário.


Abaixo vídeo com os gols e pênaltis:
(1) [Série D '23] Quartas | Ferroviário (3) 1 X 1 (0) Maranhão | Narr.: Antero Neto | TV ARTILHEIRO - YouTube "



sexta-feira, 27 de março de 2020

Tempos de covid-19

Hoje saí do confinamento.
Ao acordar me veio a sensação de liberdade, sentimento comum em um Domingo, porém hoje é diferente. Hoje é o dia do retorno do futebol.
Durante a manhã e início da tarde me ocupei revendo gols do início do campeonato, quando o vírus ainda não tinha chegado por aqui. Li notícias do adversário daquela tarde, fiquei feliz ao ver que eles vão com um grande desfalque para a partida. Essa é do tipo de partida que ninguém quer deixar de ir, não é uma final, mas carrega algo histórico nela. Imagino a empolgação dos jogadores, a euforia do agitador da torcida organizada, o velhinho que enfim vai poder botar a cara na rua e rever os seus.

Chegou a hora de ir para o estádio.
Antes de partir, amarro o bastão da bandeira no canto da janela do carro. Saio devagar e fico a observar a bandeira a tremular ao alto. Vermelho, preto e branco invadindo as ruas ainda com poucas pessoas. É estranho, mas tudo segue fechado, não vejo ninguém nas ruas. Tudo estava deserto demais, mesmo para um domingo a tarde.

Saio das ruas do bairro e chego na avenida, 3 faixas disponíveis para mim. nenhum carro a frente, nenhum atrás. Acelero e a velocidade vai além do permitido, olho pra cima pela janela e tenho uma das mais belas vistas daquele dia, a bandeira balançando incansavelmente, o som que ela proporciona com o vento a soprar forte, as cores corais vivas! Após dias recluso, estava desfrutando de algo sublime. O vento em meu rosto me faz fechar os olhos por breves segundos, jogo um braço para fora, me transformo no Super-Homem e desfruto da dádiva de poder voar. O vento forte agora corre por todo meu corpo, me proporcionando algo que há dias não sentia: um abraço.

O semáforo a frente está vermelho. Paro, aproveito para sintonizar alguma rádio AM para ouvir a escalação do time. Fico desapontado ao perceber que nenhuma está falando sobre o jogo, as informações ainda são sobre o COVID-19.

Dobro à esquerda e chego a rua do estádio. Coração já começa a bater mais forte. Sinto falta dos carros parados próximo ao local, sinto falta da torcida. Algo está errado.
Aos arredores do estádio vejo alguns caminhões, pessoas com chapéu de proteção, daqueles usados durante grandes construções. A entrada está liberada, por sinal as roletas estão recolhidas, nada impede a entrada do PV ou policiais por perto. Paro o carro, as bilheterias estão fechadas.
Será que errei o dia do jogo?

Passo direto pela entrada, sem ninguém a me incomodar, sigo rápido em direção ao acesso das arquibancadas. Algo definitivamente não estava certo.
Estou de frente ao campo. Fico paralisado com a visão que tenho ao avistar o gramado, uma grande tenda metálica está armada. O vai e vem de pessoas aqui dentro é bem maior, porém são funcionários da construção que segue no centro do campo. Olho por toda a arquibancada e não vejo nenhum torcedor, claro.

O que houve?
Estou com medo.

Acordo. Era um sonho. Era um sonho que se transformou em pesadelo. Ou melhor, revivi algo no início do dia que talvez tenha deixado de dar bola com o passar dos anos e dei de cara com a atual realidade.
Me vi parado olhando o teto do meu quarto por um tempo, angústia… mudei o olhar, passei a vista por todo o quarto até chegar ao poster do Campeão Brasileiro da Série D de 2018, e aquilo me fez acreditar em dias melhores.

Temos que acreditar.

sábado, 27 de agosto de 2011

O caminho para o sorriso

O caminho mostra suas curvas vez por outra, as ondulações e cascalhos no piso dificultam e desacelera o nosso percurso. Não quero LembrarPensarExaltarConversarSeguir a ti apenas quando sou jogado um pouco fora da pista. Sou culpado por isso acontecer ou provavelmente não. Não. Não. Não. Repete-se a palavra, assim como meu comportamento, se repete e não se renova.


O sorriso dele é o meu. Agradeço-te por isso, a alegria é incalculável, perfeita. Divina. O sorriso meu diferente... a pista ficou curvilínea e nela vi que está faltando algo. Ou melhor: acho que está faltando.


Agradeço-te.


Desculpa-me.

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